Ímpar

Como um lampejo de lucidez
O luar traz junto à embriaguez das ondas
A clareza do coração pungente

Reconheço nesse olhar
Sonhos de uma vida magenta
E humildemente aceito
Seu amor, seu beijo, meu amar

E o coração de menina-mulher
Alia-se à pele da mulher-não-tão-menina
É bobo, a mais pura rotina
Não conheço o poder do hesitar

Pele, amor, um momento
Reflexo de toda atração
Ansiosa espero o toque
De suas trêmulas mãos

De repente o impulso dos pés
Plano com o vento da vertigem nos cabelos
Retrato da minha resposta
"Sim"




REM (rapid eye movement)



Em sonhos de mulher
Me vi menina
Buscando teu colo, teus braços

Desejo do corpo
Desenho da mente
Concedem o domínio de mim

E quando o improvável 
Parece impossível
O gosto apura
Tempero

Aventuro-me em poço
Aprofundo o desejo
Te levo onde quero 
Chegar

Transcende limites
Perfeito Enlace
Utopia de nós
Delimitar

Poros exalam
No ponto mais alto
Da plena busca
Alcançar
Percebo e aceito
À revelia
Aurora precoce
Me despertar.
Dispo-me agora de salto e pudor
Invado a cama com olhar cabreiro
Simulando o querer, subjugar

De costas me entrego
Puxão de cabelo
Dança raivosa
Morder, pegar

O cheiro invade meu corpo e sentidos
Talento medido em quase tocar

Traio meu ego
Exponho o desejo
Desvendo segredos
Como tinha de ser

Risco sinuoso
Nos lençóis de seda
Maldade pura
A provocar

O primeiro toque
Reta a subir
Caminho das curvas
Pra desaguar
Nos corpos colados

A falta do ar
Boca saciada
Prazer, retomar.



Retrô



Na longa trilha
Em busca do final
Feliz consciência
De ser de você

Por hoje somente
Carrega o segredo
Da crença criança
Do peito o lamento

Lamento que um dia
Fui sua, não minha
Logo esculpiu
O fim fulgaz

Inquieta fissura
Ter-me só sua
Poder do ego
Amor, ilusão.

Acalma seu pulso
Olha por inteiro
Não é posse
É medo
Pura tensão.

Que o rosto confesse
Um sorriso abstrato
Boa desculpa
Pro nosso fracasso

Esforça o cérebro
A pensar com o corpo
Assim meu silêncio
Torneia a alma.

Um abraço tenro 
Ao fim do tormento
De usar-lhe tão meu
E saber-me tão minha.

Player

Notei em seus olhos
O prazer da conquista
Ilusão permitida
Até onde eu quiser

Contudo, meu bem
Não é de mentira
Um dia talvez
Deixarei perceber

Que a vontade é minha
É puro querer
Capricho singelo
Prazer e você.

Dueto

Trânsito
Música
Cinto
Atalho

Porta
Luz
Vinho
Botão


Zíper
Colarinho
Sapato
Lábios


Língua
Mãos
Suor
Atração


Sabor
Lençol
Chuveiro
Trapos


Abraço contido em hesitação.
Ritmo inconfessável
Música escrita a dois.


Deleite


No escuro do quarto o calor atravessa todo pudor

Os olhos semi-cerrados  entregam-se ansiosos à fantasia criada

Desejos íntimos tomam forma, cheiro...
É quase possível sentir a língua alheia finalmente cumprir seu papel.

As mãos conhecem o corpo, os dedos não conhecem limites

Contorcendo-se livre o corpo conta em movimento sua história de prazer

E assim adormece... leve, suado, límpido.


E se


Se a luz não fosse vermelha
Se o dia custasse a chegar
Se o encaixe não fosse perfeito
Se o suor custasse a pingar

O controle do corpo a pulsar
Entregue à alheia vontade
Se houvesse a mínima chance
De evitar o erro. Maldade.

Negar o desejo visível
Olhos brincam de jogar
A culpa do enlace fulgaz
Em outros repousar

E se o fôlego dissesse não?
Se os olhos fizessem questão
De abertos continuar?

E se um dia se repetir
Saberei pelo gosto vulgar
E lembrarei talvez por respeito
Agir e não perguntar.

A arte de desconstruir

Nos últimos dias, voltei a escrever na tentativa de retomar o objetivo inicial do blog: 

Compartilhar passos rumo à transformação da menina-mulher em mulher-mãe-menina.

É daí que vem o post de hoje:


A arte de desconstruir

No processo de construir a mim mesma, tenho chegado a pontos de impasse onde preciso permitir-me desconstruir.

Desconstruir paradigmas, conceitos, visões, percepções.

Parece fácil, mas não é.

Pergunte-se - com toda sinceridade a que se permite olhar pra si mesmo - qual foi a última certeza que você deixou de lado para aceitar uma nova?

Viu? ;)

Precisei - preciso e, se tudo continuar em construção, precisarei - arrancar travas bobas da mente, do corpo e do coração.

O resultado? Liberdade.

A incrível sensação de estar livre pra ser quem eu sou hoje.

Que pode não ser quem fui, nem quem serei daqui há pouco.

Mas e daí?


Assim sendo, acabei de tirar do guarda-roupa uma verdade que guardava como travesseiro querido de infância e estou pronta para dar-lhe novo destino.

Destino esse que não sei bem qual é.

Talvez tire uma foto pra recordar, saber que esteve ali, e depois deixe-a ir.

Óbvio que o vazio do apego vem perguntar "tem certeza?".

Mas depois do questionamento sempre vêem as novas certezas, e então está tudo bem.

Engraçado como nos cercamos de um mundo de certezas construídas ao longo da vida.

E pra que?

Pra descobrir que estar disposto a deixá-las serem levadas é uma das melhores coisas que se pode conquistar?

Nice! :P

15/05/11, 18:38 em "Mãe em Construção"

Tempo



Dizem que o passado é de Museu
E dizem que o futuro pertence a Deus
Dizem ainda que o presente é só Seu.


Digo eu que o passado poderia ficar em seu lugar
Quietinho, aguardando visitas
Explicando-se a cada olhar.


O que podemos 
Se nos limitamos a achar que poderíamos
Passará, 
Ou já passou.


O que já vivemos e o que ainda não sabemos
Nos fascina com a mesma e exata proporção do impalpável.

Incríveis e imperfeitos.
Bobos
Como tudo aquilo de que um dia ri(re)mos.


E no meio de tanto relativismo temporal
Quanto desperdício em tanto pensar.

14/05/11 em Mãe em Cosntrução