Com algum esforço é possível ver textura, resquícios de uma silhueta que habitou esse quadro um dia.
Não, não é uma tela crua.
Espátula, pincel e delicado soprar tentam desvendar o que há por trás de tantas camadas de tinta branca.
Ajeito os óculos e aperto os olhos na esperança de estar apta a descobrir cada traço de luz, cada sombra...
Que figura é essa escondida com tamanha competência?
É preciso paciência. Se eu tiver pressa posso borrar o desenho original e perder para sempre sua essência.
Horas, dias, anos se passam e tudo que consigo expôr são seus olhos.
É uma mulher. Talvez uma menina ainda.
Um brilho inebriante salta de seus olhos e invade minha alma.
O cenário é bucólico. Um jardim, algumas silhuetas.. Tudo muito otimista.É uma mulher. Talvez uma menina ainda.
Um brilho inebriante salta de seus olhos e invade minha alma.
Será seu refúgio? Real ou fantasioso refúgio da vida?...
Do outro lado da tela, outra figura. É pra lá que ela está olhando. É isso que a faz espalhar magia à sua volta.
Um leve arredondar das maçãs insinua que sua expressão é de contentamento. Apesar disso, a cor um pouco mais rubra do que deveria revela discreta excitação.
Sua expressão agora mistura encanto e timidez.
Algum tempo a mais de dedicação e finalmente consigo ver seus lábios.
Ela está sorrindo como eu pensava.Mas seu sorriso me diz tão pouco quanto seu rosto sem ele.
Em busca de respostas, procuro a segunda imagem da tela.
Logo reconheço o contorno das formas...
Um espelho.
Me afasto um pouco da tela para observar o todo.
O que a prende tão profundamente em si mesma?
Não é um simples espelho, posso dizer. Não com um reflexo tão imperfeito.
Um estalo e tudo fica claro: Em seu refúgio, um espelho da alma.
Conhecer-se. Que privilégio tem essa menina!